terça-feira, setembro 11, 2007

A noite

Gosto da noite! E haverá alguém que não goste? Gosto do sítio que a lua ocupa. Penso mesmo que aquele sítio foi especialmente criado para ela. Fica bem, ali no meio da grande nuvem negra. E as estrelas? São lindas! São como relâmpagos que teimam em não apagar, noite após noite. Às vezes vejo mesmo discussões enormes entre elas, umas com inveja de outras apenas por brilharem mais. Acho que é estúpido da parte delas. Cada uma brilha da sua forma, todas elas com a mesma beleza e significado, pelo menos para mim. É certo que umas brilham mais que outras, mas mesmo assim, o brilho das estrelas que discutem é algo que irei sempre procurar nos olhos daqueles que encontro na minha vida.
Fazem da Grande nuvem negra o seu poiso, o céu que parece bater todas as noites no topo da minha cabeça. Mas o peso, esse, tenho vindo a notar cada vez menos, à medida que vou transportando o brilho das estrelas para as pessoas que preenchem os meus dias. E digo dias porque as noites passo-as a olhar para o céu, sempre que posso. Acho mesmo que nunca passei uma noite sem olhar para a Grande nuvem. Imagino muitas vezes o céu como sendo uma tela de cinema, numa sala onde pouca gente assiste ao filme da semana. Uma coisa tão simples, uma coisa que faz parte de nós e que, no entanto, é tão descriminada. Já não se olha para o céu como se olhava antigamente e então, apercebo-me que a noite é um espectáculo que apenas algumas pessoas têm o privilégio de entender. Faço um esforço por entender. Já algumas pessoas tentaram fazer-me ver que o céu não passa de algo eterno e infindável, mas que percebem todas elas de coisas eternas e infindáveis? Elas próprias são tão terrenas, tão mesquinhas que é compreensível, para mim, que não entendam o filme que passa na tela.
A lua também tenta sempre dar um ar da sua graça. É vê-la mudar de figurino a cada noite que passa. É mesmo uma convencida! Pensar ela que por mudar o seu traje irá receber mais atenção por parte de quem da plateia assiste ao lento caminhar de todo o crepúsculo. Mas eu até lhe dou razão. Há noites em que está deslumbrante, quando por exemplo veste aquele fato apertadinho, que lhe acentua as formas, redondas, bonitas, atraentes. Outras vezes teima em usar menos roupa e deixa um pouco de pele à mostra. Sabias que afinal de contas a lua é transparente? Eu descobri isso há pouco tempo. Ainda a semana passada ela usou, numa noite quente de Agosto, um vestido branco que deixava vislumbrar um ombro negro. Mas depois pensei…. Não é o ombro que é negro, ela é transparente e, o que se vê por trás são as estrelas que discutem e a Grande nuvem negra que se afigurava mais límpida que nunca.
Reparei ainda que a lua também gosta de se enfeitar. Usa anéis! Consegues acreditar nisso? Vi mesmo, um anel à sua volta. Era baço, mas via-se perfeitamente. Coisas estranhas se passam lá por cima. As estrelas continuam a discutir e eu prometo que uma noite destas eu vou por os pontos nos i’s. Gritar tanto que elas, lá longe, irão ouvir. Vou proibi-las de discutir. Coisa feia a inveja! Todas vocês são bonitas! Eu amo cada uma de vós. Tenho a certeza que a lua se vai meter ao barulho. Convencida como ela é, vai tentar centrar a minha atenção nela. Eu não vou deixar. Primeiro falo com as estrelas e, só depois falarei com ela. Vou dizer-lhe ao ouvido… “Tu és o personagem principal deste filme. Tu e o sol são os responsáveis por este espectáculo todas as noites. Não queiras jogar este jogo de incertezas com esse comportamento narcisista. A tua beleza, essa, ninguém nunca te poderá tirar
…”

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